Finalmente, após meses de espectativa, foi descerrada, no passado dia 20 de Outubro, uma placa num jardim/recreio para crianças, em memória dum herói bem conhecido nas comunidades que formam o mosaico multicultural desta nossa cidade de Toronto. Estamo-nos referindo ao ex-cônsul-geral de Portugal na cidade francesa de Bordéus, Aristides de Sousa Mendes, a quem chamamos “herói”. Não são só aqueles que se evidenciam nos campos de batalha que arriscam a vida nos atos de coragem e valentia que são sempre respeitados e admirados. Existem outros que nos campos da compaixão e humanismo, durante os conflitos armados, salvam números e incontáveis vidas humanas e são esses, para nós, que são os “verdadeiros heróis” desinteressadamente e com o risco das suas vidas, na linha da frente, resgatam da tortura e da morte certa tanta gente.
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De nome completo, Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches, nasceu em Cabanas de Viriato, Viseu, a 19 de Julho de 1885 tendo falecido, pobre e esquecido, no dia 3 de Abril de 1954, no Hospital da Ordem da Terceira, em Lisboa, tendo, por falta de fato tido como mortalha um hábito da Ordem dos Franciscanos. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra ingressou, logo depois, no corpo diplomático destacado em diversos países. Todavia foi enquanto no desempenho das funções de Cônsul-Geral de Portugal na cidade de Bordéus, durante a II Guerra Mundial, providenciou a fuga de pessoas perseguidas pelas forças Nazis que ocupavam a nação francesa, muitos dos quais de confissão judaica. É acreditado ter salvado mais de 30 mil refugiados passando visas para entrarem em Portugal desafiando, com este ato, as ordens previamente recebidas do então ditador da nação lusa, Oliveira Salazar.
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A sua coragem e determinação em desobedecer às ordens insensatas e desumanas do ditador Salazar trouxe-lhe, como já previa, a ira daquele chefe de estado da nação portuguesa tendo como paga pelo seu alto valor humanitário, o término compulsivo de 30 anos de função pública sem direito a pensão ou subvenções após tantos anos de carreira. Para agravar a situação foi-lhe revocado o direito de exercer advocacia em Portugal ou de lecionar no ensino publico ou privado. Seus filhos, 14 no total, tiveram de emigrar para outras terras para sobreviver e frequentar os estudos superiores coisa quase impossível em Portugal pelas dificuldades financeiras dos pais ficando só em sua companhia a esposa e companheira inseparável, Maria Angelina Coelho de Sousa Mendes, que faleceu prematuramente em 1949, aos 60 anos de idade.
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Após a Revolução de Abril, em 1974, e subsequentemente com a queda da ditadura em Portugal, foi possível reabilitar o nome, e a obra humanitária, daquele saudoso e injustiçado cidadão, Aristides de Sousa Mendes, tendo sido, embora a título póstumo, promovido a Embaixador e receber a mais alta condecoração portuguesa, a Ordem da Liberdade (1986) e a Cruz de Mérito (1998). Pouco a pouco, ou ano após anos, este nosso tem vindo a ser homenageado por diversas cidades do mundo algumas das quais destacamos - Jerusalém (com árvores no Yad Vashen), Viena de Áustria, Nova Iorque, Bordéus, Montreal e, obviamente, muitas cidades em Portugal.
Da lista de pessoas salvas por Aristides de Sousa Mendes contam-se nomes de relevo como o arquiduque da Áustria, Otto Von Habsburgo, o pintor Salvador Dali; o artista Robert Montgomery; o pianista Norbert Gingold; Sylvain Bromberger, professor emérito de filosofia; compositor austríaco Gustav Mahler e outros.
O mais caricato é que após o fim da Segunda Grande Guerra Mundial, em 1945, Salazar foi felicitado, por diversas nações, pela obra humanitária de Sousa Mendes recusando-se no entanto a reintegrar aquele diplomata no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
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Agora o Jardim/Recreio para crianças (Playground) inserido no Arlington Parkette após as renovações sofridas numa zona residencial da cidade de Toronto, foi no citado domingo, palco duma cerimonia em memoria daquele diplomata, tendo aquele evento iniciado pelas 13.30 horas com a atuação do Rancho Folclórico do Académico de Viseu da Casa das Beiras de Toronto e dos estudantes da Luso Can-Tuna. Terminado foi a vez de oficialmente, por protocolo, de dar-se início `as cerimónias oficiais tendo como Mestre-de-Cerimonias o vereador Joe Mihevc do Bairro 21 (St. Paul’s) e como oradores a presidente do Executivo da Associação Cultural 25 de Abril de Toronto, Lígia Nóbrega; o cônsul-geral de Portugal em Toronto, Julio Vilela e Micki Mizrhai representando a UJA Federation. Foram entoados os hinos de Israel e de Portugal respetivamente por duas estudantes da escola The Leo Baeck North, a Kayla Saul e a Allie Silcoff e Isabel Sinde e as três juntamente no Hino do Canadá.
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Presente vários representantes de clubes e associações portuguesas que destacamos a Associação dos Veteranos Combatentes de Toronto; Arsenal do Minho de Toronto; Academia do Bacalhau; First Portuguese Club; Amigu di Macau; Casa das Beiras, Luso Can-Tuna; Banda Filarmónica do Sagrado Coração de Jesus; Clube Vasco da Gama de Brampton e da Casa do Alentejo de Toronto. Destaque também para a presença da vereadora da Câmara de Toronto, a luso-canadiana, Ana Bailão e do Tesoureiro-Secretario, Luís Camara, do sindicato LIUNA-Local 183, organização que financiou a placa de bronze afixada ao monumento em pedra junto daquele recreio para crianças.
Destacamos também dois membros da Fundação Sousa Mendes vindos de Montreal, nas pessoas do presidente e secretária, respetivamente Louis-Philippe de Sousa Mendes (neto do homenageado) e a Dra. Renee Lotey (filha dum elemento salvo por Sousa Mendes). Presentes também três recipientes de visas do nosso cônsul-geral em Bordéus, a Professora/Dra. Mary Seeman; Rochelle Simsovic Kashtan e o Professor Benjamin Schlesinger.
Seguiu-se um Porto-de-Honra na escola adjacente ao Parkette, The Leo Baeck Day School, onde, no seu auditório, foi exibido o filme Desobediência sobre a vida de Aristides de Sousa Mendes e atuação como cônsul de Portugal em Bordéus até ao momento da sua morte.
Esta iniciativa partiu da Associação Cultural 25 de Abril que juntamente com o vereador Joe Mihevc e em parceria com a escola The Leo Baeck Day School, a UJA Federação da Grande Toronto, The Centre for Israel and Jewish Affairs e sob o protocolo e logístico dos serviços camarários da Cidade de Toronto com o apoio financeiro do sindicato de trabalhadores, LIUNA-Local 183 foi possível homenagear-se um herói português que, num passado recente, tudo perdeu para salvar vidas em perigo de serem seivadas pela loucura do ditador Nazi, Adolfo Hitler, no inicio do conflito da Segunda Grande Guerra.
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